Por: Vinícius Nardy e Mateus Muller Cobucci
O que você está esperando neste segundo semestre? É o Rock in Rio com pouco rock? Ou as eleições com os aguardados debates eleitorais? Pode ser que seja, também, a primeira Copa do Mundo disputada em novembro e dezembro — e que nos trará o hexa!
Nós do MilkPoint Mercado e do MilkPoint, além do Fórum, do Interleite e do Dairy Vision, estamos aguardando o resultado dos inúmeros auxílios distribuídos pelo governo federal na economia. A PEC do estado de emergência, ou “PEC Kamikaze” (como está sendo chamada popularmente), prevê a injeção de mais de R$41 bilhões na economia no período de agosto até dezembro de 2022.
Como exemplo, o Auxílio Brasil — que veio para substituir o Bolsa Família como principal programa social de redistribuição de renda — pagou em média R$7,3 bilhões mensais desde o início de 2022. A “PEC Kamikaze”, entre outras ações, irá oferecer um upgrade ao Auxílio Brasil, e deve injetar, “na veia”, R$6,9bi a mais em cada um dos últimos 5 meses do ano.
Afinal, o que são esses auxílios e o que representam economicamente?
Até o final deste ano, o governo federal injetará cerca de R$ 41 bilhões na economia em auxílios, sendo divididos em:
- Auxílio Brasil: R$26 bilhões;
- Auxílio Gás dos Brasileiros: R$1,05 bilhão;
- Auxílio para caminhoneiros: R$5,4 bilhões;
- Auxílio para taxistas: R$2 bilhões;
- Gratuidades no transporte para idosos: R$2,5 bilhões;
- Créditos para etanol: R$3,8 bilhões;
- Alimenta Brasil: R$500 milhões.
Fonte: Agência Senado
O mais relevante de todos, certamente é o aumento de cerca de 56% do ticket médio do Auxílio Brasil. Além deste, outros podem ser considerados como dinheiro injetado “na veia” do consumo: o Auxílio para Caminhoneiros, embora chamado de “Auxílio Diesel”, poderá ser gasto da forma como o beneficiário julgar melhor; o Auxílio para Taxistas, da mesma forma; o Auxílio Gás, embora seja direcionado para a compra do gás de cozinha, certamente fará com que o dinheiro que seria gasto no gás pelo beneficiário, vá para outro item de consumo. Os demais são ajudas menos diretas para o consumo.
Se levarmos em conta os auxílios disponibilizados pelo governo federal e que devem ser utilizados diretamente para consumo, o montante seria representado em 4,3% da expectativa do PIB no segundo semestre. Para efeitos de comparação, o Programa de Renda e Oportunidade, lançado pelo governo durante o 1º semestre e que favoreceu o desempenho econômico do 2º tri, representou cerca de 3% do PIB em injeções diretamente ligadas ao consumo no período.
Mas e o leite com isso?
O mês de junho foi de aceleração para os preços em toda a cadeia de lácteos. Os preços de venda da indústria ao varejo atingiram valores recordes, e produtos como o UHT acumulam alta de mais de 100% em relação ao início de 2022.
Vamos seguir utilizando o leite UHT como exemplo. Como mostram os gráficos abaixo, o valor de venda praticado pelo varejo nas vendas ao consumidor final até o último mês tornou a margem deste elo negativa. Nestas últimas semanas, os preços na gôndola têm aumentado com mais força, e a dúvida sobre como a demanda irá reagir ao novo patamar de preços cresceu.
Gráfico 1. Preços nominais do UHT no varejo (R$/litro).
Fonte: elaboração própria – MilkPoint Mercado; FIPE.
Gráfico 2. Variação quadrissemanal de preços de venda do varejo (%).
Fonte: elaboração própria – MilkPoint Mercado; FIPE.
Gráfico 3. Participação do varejo no preço final do leite UHT ao consumidor.
Fonte: elaboração própria – MilkPoint Mercado; FIPE.
Com base nestas informações, poderíamos traçar um cenário de oferta e demanda para o 2º semestre:
Com maior oferta e menor demanda, teríamos preços em queda no período. O cenário de injeção de dinheiro na economia, entretanto, muda esta visão. Embora algum recuo nos valores dos derivados seja provável para as próximas semanas, em razão de uma demanda mais travada diante do novo patamar de preços, a visão a partir do mês de agosto pode ser mais otimista.
Ainda que a perspectiva seja de maior oferta nos próximos meses, a diminuição do número de animais e produtores é real, e a oferta estará em patamar inferior ao “padrão”. Com um aporte de 4% do PIB e levando em conta que para a parcela da população afetada por este auxílio estamos falando de um aumento de renda considerável, de até 50% do que recebem hoje, a tendência de aumento de consumo é bastante provável.
Podemos pensar, então, em um T3 que começa impactado pelos preços já bastante elevados, mas em um fim de T3 e um T4 que contarão com nova rodada de choque positivo de consumo. Quanto a 2023, veremos mais à frente…